segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Colbert presta homenagem a Chico Pinto na Câmara Federal

Em discurso emocionado e em nome do PMDB, Colbert presta homenagem a Francisco Pinto fazendo uma retrospectiva da sua trajetória política, na sessão solene em homenagem ao ex-deputado.

“Perdemos, este ano, o corajoso Deputado e amigo Francisco Pinto, fundador do MDB e do PMDB, partidos pelos quais conquistou quatro mandatos como Deputado Federal”. Assim, o deputado Colbert Martins deu início ao seu discurso hoje (15), na Câmara Federal e em nome do PMDB, em homenagem ao advogado, jornalista, ex-deputado federal e ex-prefeito de Feira de Santana, Francisco Pinto.

Chico Pinto, como era conhecido, começou sua trajetória política elegendo-se vereador pelo PSD, em 1950. Em 1954, graduou-se em Direito. Conquistou a prefeitura de Feira de Santana em 1962. “Foi uma disputa muito grande para se tirar o mandato, que era da UND, por 49 votos, na última urna, de um distrito chamado Tiquaruçu”, lembra Colbert. “Infelizmente, em 1964 veio o golpe militar, contra a Constituição, contra a política e contra o Estado de Direito”, ressalta.

Em seu discurso Colbert fala sobre a cassação de Chico Pinto: “Sr. Presidente, não se conseguiu a cassação de Chico Pinto. Meu pai, na época, era também Vereador. O comando militar reunia a Câmara de Vereadores toda noite para poder se aprovar a cassação, o que nunca foi feito. Até que chegou um ponto em que colocou o Chico Pinto para fora, assumiu o Presidente da Câmara, que era da UND, e a história é contada dessa forma. Não se conseguiu cassar pelos meios democráticos”. enfatiza.

Colbert lembra aos presentes que o primeiro vice-presidente da UNE e outros integrantes do Partido Comunista Brasileiro estiveram em Salvador em 1º de abril de 1964, tentando convencer Chico a fazer parte da luta armada, em Salvador e Feira de Santana. Queriam se unir forças a Miguel Arraes, em Pernambuco, e a Leonel Brizola, no Sul.

Resistência
“Chico Pinto tinha a disposição de resistir; mas com um arsenal pequeno não se pode combater Forças Armadas, respaldadas pelo serviço de inteligência e verbas dos Estados Unidos. A essa conclusão chegaram aqueles militantes políticos, especialmente após constatarem que o quartel e a Polícia Militar já haviam sido tomado pelos militares golpistas”, prossegue Colbert.

Os resistentes foram para outros municípios, e Chico Pinto, já conhecido por sua coragem e liderança em posições progressistas, ficou na Prefeitura, mesmo sabendo que poderia ser deposto, como foi. “Fez, sozinho, sua defesa perante o tribunal militar, conseguindo a absolvição; afinal, criminosos foram aqueles que romperam a ordem constitucional, rebelando-se contra o Presidente eleito, João Goulart, chefe legítimo e supremo das Forças Armadas”, destaca o deputado.

O Ato Institucional nº 2, em 1965, acabou com o PSD e com todos os outros partidos existentes desde 1945. Chico Pinto foi um dos fundadores da sessão baiana do Movimento Democrático Brasileiro em 1966, única opção de luta política pela redemocratização deixada aos que prezavam o Estado de Direito.

Chico Pinto, logo após ser eleito Deputado Federal pela Bahia em 1970, no período mais violento do regime militar, divergiu da orientação moderada existente no Movimento Democrático Brasileiro e foi um dos fundadores do chamado grupo autêntico, “de postura mais crítica e confrontadora da falsa normalidade política”, ressalta Colbert.

Nos idos de 1974, a Ditadura tinha grande popularidade e indicava candidatos únicos, usando as eleições apenas para referendá-los. Chico Pinto e os autênticos optaram pelo voto em branco e nulo para contestar o regime militar, dentro da pouca margem de manobra permitida naqueles tempos.

Protesto
Como nacionalista e democrata, não perdia a chance de denunciar as ditaduras aqui e nos países vizinhos, impostas e mantidas com o apoio dos Estados Unidos. No final do Governo Médici, na véspera da posse de Ernesto Geisel, visitou-nos o ditador chileno Augusto Pinochet. “Na época ainda não se sabia que era um corrupto e um ladrão, apenas um assassino covarde, traidor da Constituição e do Presidente de seu país. Chico Pinto ousou elevar sua voz em protesto, em uma entrevista à Rádio Cultura de Feira de Santana”, contextualiza Colbert enfatizando ainda que sua manifestação foi considerada ofensiva pelas autoridades brasileiras, fraternas às ditaduras do Continente. A emissora foi imediatamente fechada, para reabrir mais de uma década depois, em 1985.

Processado, condenado a seis meses de detenção em 1974, Chico Pinto foi o primeiro Deputado a ser preso. Após cumprir a pena, enfrentou mais oito processos e a Inquéritos Policiais Militares; advogado, Chico defendia-se a si próprio.

O retorno
Colbert destaca o retorno de Chico após prisão: “O retorno de Chico Pinto a Feira de Santana, depois dessa prisão, foi um fato impressionante. Aliás, há um filme, na Universidade de Feira de Santana, Chico Pinto Vem Aí, que mostra muito da trajetória de Chico Pinto, de meu pai, Colbert Martins, e de vários outros do nosso grupo durante todo o período de 1964 até as eleições, várias, que Chico Pinto protagonizou em Feira de Santana. Sua volta após a prisão foi extremamente importante e consagradora para nós todos”, discursa.

Reeleito Deputado Federal em 1978, foi um dos fundadores do PMDB, do qual era Secretário-geral Nacional. Conquistou novos mandatos de Deputado Federal em 1982 e 1986. “Coragem, honestidade, competência, coerência: nosso homenageado simboliza essas qualidades. Todavia, o câncer levou-nos Chico Pinto”, discursa emocionado.

Em sua despedida, estavam presentes políticos, intelectuais e os Governadores de Pernambuco e da Bahia, além de milhares de pessoas que lembravam de seu louvável nacionalismo e espírito democrático. “Em nome do PMDB, e também do extinto MDB, e de todos os que levantam a voz contra as tiranias e as vilanias, prestamos nossas homenagens a Francisco Pinto, Sr. Presidente, dizendo que mesmo a morte não conseguiu vencê-lo. Apenas neste momento reiteramos as nossas mais sinceras homenagens”, conclui Colbert.

Nenhum comentário: