terça-feira, 12 de outubro de 2010

O Dia da Criança


Por Joaquim Dionízio Brasileiro Franco

A infância que tive quando fui criança, não tinha dia da criança
Todo dia era dia santo ou dia de santo.
No dia santo era feriado. No dia de santo não era feriado; Era dia de devoção. Que os pais e as professoras sempre lembravam. Vem daí a piada do “padre alemon”, que dizia no sermão:
“.. 0ntem fu(foi) dia santo”...
Os dias santos foram quase todos eliminados, e os dias de santo nem são lembrados.
Na infância sem dia da criança, o badogue(estilingue), foi um grande parceiro. Tive inúmeros badogues. Todos feitos por mim – escolhia um gancho em um arbusto do quintal ou da praça, um pequeno pedaço de couro, para fazer a bolsa, passava numa borracharia e conseguia um pedaço de câmara de ar de pneu. Cortava as duas tiras de borracha e algumas tirinhas finas que serviam de atilho. Com um pouco de perícia e ajuda, estava feito o badogue. Faltava decidir o uso das balas. Não usávamos as bolas de gude; eram caras. Fazíamos balas de barro de terra vermelha, que secavam no sol. Munidos deste arsenal tirávamos o sossego dos passarinhos e dos donos das vidraças da rua. Era comum juntar dois grupos de meninos e travar uma batalha; usando os frutos da mamona como bala. Eram os Cawbois x Apaches, ou os Romanos X Gladiadores. No fim ninguém saía ferido; as mamonas não eram assassinas. No máximo um pé torcido de uma queda ou um espinho que furava alguém.
Na infância das crianças de agora, tem O DIA DA CRIANÇA, mas o badogue não é recomendado. Atirar de badogue em passarinho é ecologicamente condenado, atirar de badogue em vidraça é anti-social e “politicamente incorreto”. Incita à violência, argumentam os estudiosos do comportamento individual em sociedade.
Hoje celebramos o DIA DA CRIANÇA (12 de outubro de 2010), é costume do nosso tempo destacar os dias com celebrações. Dia do pai, dia da mãe , dia do amigo, dia das profissões, dia do funcionário público, etc. Estas celebrações substituem os dias Santos e os dias de Santo, que falei no começo. E objetivam apenas a aquisição dos bens de consumo que o comércio vorazmente explora e impõe, através de propaganda massificante.
Talvez por isto mesmo o badogue seja um brinquedo considerado inadequado pelos teóricos e estudiosos da nossa “modernidade” .

Para o meu filho Joaquim com quase nove anos de idade – ... ainda esta semana construiremos o nosso badogue...

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